O atual contexto da Educação Infantil denota as fragilidades e tensões desse nível educacional, dentre tantas, talvez a mais acentuada delas seja o debate acerca da identidade docente, estes vêm se constituindo professor ao longo dos anos, quer seja por influência por parte das decisões e ações na esfera política ou seja por um novo olhar que surge dos meios acadêmicos articulados às concepções de senso comum que nascem no seio da sociedade. Ao assumir o lugar social de professor de educação infantil, o profissional inicia um diálogo com uma identidade em construção na sociedade contemporânea, digo em construção, pois foram e continuam sendo as demandas surgidas no cotidiano da escola da infância que alimentaram a constituição de novo perfil para atuar na Educação Infantil.
O município de Rondonópolis tem percorrido caminhos ainda tímidos no tocante à profissionalização docente, isso se considerarmos as novas diretrizes do Ministério da Educação no que tange ao profissional que deverá atuar na Educação Infantil. Refiro-me aqui a caminhos tímidos, pois se pensarmos que a criação da primeira creche no município é datada de 1983, vinte e nove anos se passaram e inicialmente tínhamos as mães lavadeiras na Vila Canaã que eram as “cuidadoras” das crianças que frequentavam a creche da região, passados alguns anos tivemos as “pajens”, profissionais atuantes que realizavam um trabalho social e educacional, visto que nesse período as creches estavam sob a responsabilidade da Secretaria de Assistência Social. Nos anos 90, certamente impulsionado pelo movimento pré-LDBEN, ou seja, os discursos e debates que movimentavam os intelectuais e os responsáveis pela educação no país, sob a égide da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN/1996, surge então nesse contexto as Regentes de Ensino Infantil, profissionais aptas a atuar em creches tendo como referencial o cuidar e o educar das crianças de zero a três anos.
O debate sobre a Educação Infantil no Brasil ainda é jovem, surge em 1970 com os intensos movimentos no país, nesse sentido mais especificamente o Movimento Feminista que levantou a bandeira de luta em favor de creches para as mães trabalhadoras. A caminhada em favor da educação das crianças se consolida legalmente com a Constituição Federal de 1988 com a inserção do termo Educação Infantil compreendendo as crianças de zero a seis anos no cenário da primeira etapa da Educação Básica. A partir daí emerge então o debate sobre o currículo da infância, uma Pedagogia da infância, políticas de atendimento e dentre tantas outras recorrências inicia-se a discussão sobre o perfil de identidade do professor para atuar na educação das crianças de zero a seis anos. Professor este, que se constitui numa identidade ainda frágil uma vez que não sabemos o caminho a seguir ante este sujeito ainda pequeno, mas que é histórico e social e que consequentemente constrói cultura. Enquanto educadora da infância, muito me tem chamado atenção a relação criança – adulto na escola da infância e o caminho por esta seara ainda possui urgência em ser desbravado.
As dificuldades postas estão nas concepções dos professores, e principalmente em compreender qual o meu papel enquanto professora de educação infantil, percebo que o ponto inicial está em primeiramente buscar entendimento para a necessidade do ser professor e a consequente demanda que o faz ser professor da Educação Infantil. Nesse sentido, se faz necessário conhecer e reconhecer a criança enquanto sujeito-histórico-social e de direito, não vinculando uma educação frágil a crianças frágeis que vivem um tempo de privação cultural. É urgente pensar num currículo significativo, dialético e dialógico na escola da infância, entretanto, não será possível sem antes propiciar o debate de novos fazeres, que não esteja focado unicamente em alimentação, higiene e guarda das crianças. É nesse sentido que compreendo a urgência do repensar das concepções que norteiam os fazeres na Educação Infantil, somente a partir daí poderemos traçar uma política de formação sólida, capaz de provocar mudanças de práticas pedagógicas efetivamente.
Portanto, discutir sobre a identidade do professor requer também discutir o papel de outros atores envolvidos na educação infantil, sejam aqueles que atuam diretamente com as crianças, sejam os que organizam, pensam e deliberam as políticas da infância. Para tanto, se faz necessário repensar o papel de cada sujeito atuante nas mais diferentes esferas, para posterior reconfiguração de concepções e práticas pedagógicas, que sejam capazes de valorizar o pensar e o fazer como elementos indissociáveis na infância, práticas que compreendam a Educação Infantil como um lugar de brincadeiras, de liberdade de expressão, de interagir com o outro e com o mundo, com elementos culturais, um lugar possível para a construção de novos saberes nas mais diferentes dimensões sejam elas afetiva, linguística, social, psicológica e cognitiva. Fica aqui o meu convite a todos os profissionais da educação, para que façamos coro na consciência desse ser professor da infância, é urgente a legitimação de políticas educacionais que venham de encontro às tensões e fragilidades que constituem a identidade docente.
(*) Teina Nascimento Lopes, formada em Letras e Pedagogia, Especialista em Linguagem e Mestre em educação pela UFMT, professora de Educação Básica.
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