Textos Gerais

Bullying: identifique se o seu filho é vítima desse tipo de intimidação


Pouco antes do horário de ir à escola, a criança diz que tem dor de barriga e pede para faltar. Em casa, não desgruda da Internet. Senhor pai ou responsável: pense duas vezes antes de castigar seu filho ou chamá-lo de preguiçoso. Você pode ter uma vítima de bullying em casa.

O termo vem do inglês "bully" (pronuncia-se 'búli'), que se refere a pessoas que intimidam, agridem ou se aproveitam de outras pessoas - o seu filho, por exemplo.


Um dos desafios para a identificação do bullying é o fato de muitas dessas práticas serem aceitas como meras brincadeiras por pais e professores - crianças que se dão apelidos, fazem gozações e chacotas umas com as outras.

"O que muitos pais não percebem é que, não raramente, essas 'brincadeiras' fazem mal à criança. Em casos extremos, leva ao suicídio", diz a pedagoga Cleo Fante, especialista em bullying.

Segundo a educadora, a popularização da Internet entre adolescentes e crianças é outro fator que contribui para o aumento do bullying, "já que no mundo virtual as pessoas não precisam dar as caras".

Os casos de cyberbullying, praticados pela Web, são tão "prejudiciais para as crianças quanto o bullyings tradicional", afirma Fante.

"Um dos maiores erros é menosprezar o sofrimento da criança. Não se deve dizer para o filho deixar isso para lá", diz Fante.

"Há pais que dizem 'eu também passei por isso', o que não justifica o sofrimento da criança. Além do mais, cada indivíduo encara as dificuldades de maneira diferente", diz.

Se a escola é o local em que a criança sofre a intimidação, os pais devem entrar em contato com professores e diretores, que devem coibir esse tipo de ação entre os estudantes.

"É preciso também estimular a auto-estima dos pequenos. As maiores vítimas são as crianças tímidas, que não conseguem se defender e exigir que os colegas parem com a brincadeira. Os pais devem incentivar a criança a fazer isso, sem estimular a violência", diz Fante.

"A criança deve conseguir dizer com firmeza: 'eu não quero brincar', 'eu não sou isso que você está dizendo'. Brigar com o filho vítima de bullying não dará a coragem que a criança precisará para ser firme", explica a pedagoga.

SEU FILHO SOFRE BULLYING? ENTÃO:

Não diga para "deixar para lá" - ou ele pode não mais contar problemas que tenha;
Converse com a direção da escola, se o problema for lá;
Se não resolver, faça boletim de ocorrência em delegacia de polícia;
Se a ofensa for pela Internet, imprima a página e leve ao Ministério Público;
Estimule que seu filho conte como foi o dia na escola.
Como identificar o bullying
Muitas vítimas de bullying sofrem caladas, "por vergonha, por acharem que são culpadas ou até merecem os apelidos, ou por falta de oportunidade de diálogo", aponta Cleo Fante.

Cabe, então, a pais e professores a tarefa e identificar se há algo de errado na vida social da criança ou mesmo do adolescente.

"Só consegue notar diferenças quem acompanha o cotidiano do filho. É esse o primeiro passo: ver se a criança está mais irritada, nervosa ou triste que o normal", aponta Fante.

No caso de vítimas de cyberbulling, a compulsão por utilizar a Internet é outra característica.

Filhos "valentões"

Se o seu filho não é vítima de bullying, ele pode ser, ainda, um desses agressores - comportamento que também merece atenção e cuidado dos pais.

"Dependendo da gravidade do ato, o menor pode ser internado para serem aplicadas medidas sócio-educativas", explica o promotor de Justiça Criminal, Lélio Braga Calhau, de Minas Gerais.

No caso de bullying pela Internet - caso a criança ou adolescente espalhe mentiras que ofendam algum colega -, o pai ou quem permitiu o acesso ao computador também pode ser penalizado.

"Alguém que seja negligente com um crime pode também ser responsabilizado, de acordo pelo código penal. Na área cívil, pode haver processos por danos morais e a família ser obrigada a pagar indenizações", diz Calhau.

Para identificar se o seu filho está intimidando outras crianças, a pedagoga cita algumas características comuns aos agressores: "os jovens que praticam bullying costumam ser hostis, usam força para resolver seus problemas e são intolerantes".

Os pais não devem elogiar nem estimular os filhos briguentos e valentões. Devem conversar e, se necessário, procurar ajuda de profissionais especializados, como psicólogos.


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Enem: Critério para cortar corretor de redação será mais exigente

O critério para eliminar um corretor de redação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) será mais rigoroso a partir de 2013, afirmou o ministro Aloizio Mercadante (Educação) na manhã desta quarta (10). Ele participa de audiência pública sobre prioridades e planejamento da pasta na Câmara dos Deputados, em Brasília.

POLÊMICAS NA REDAÇÃO DO ENEM

Candidato escreve receita de miojo na redação do Enem e tira nota 560

Após miojo, Inep quer anulação de redações com gracinhas no Enem

Segundo o ministro, um corretor que tenha nível abaixo de 7 nas suas correções em relação ao grupo será eliminado -- anteriormente esse índice era 5. Quando maior é número, menor é diferença entre as notas dadas pelo corretor e os outros avaliadores (o que demonstra coerência em seu trabalho). A escala vai de zero a dez.

A "demissão" ocorre durante o processo de correção das redações. Para se ter uma ideia, 300 professores foram afastados durante o processo de avaliação das provas do Enem 2012 por não corresponderem aos critérios de qualidade estabelecidos pela organização do exame. O total de corretores era de 5.300.

Essa mudança faz parte de um pacote de medidas anunciadas após a divulgação de redações com deboche que obtiveram nota média -  um texto com uma receita de miojo ficou com 560 e outra que trazia trechos do hino do Palmeiras obteve 500 pontos, numa escala que chega a 1.000.

Deboche nota zero

O ministro, em conjunto com o presidente do Inep (Luiz Cláudio Costa), já havia divulgado que as redações com "inserções indevidas" seriam anuladas se elas fossem algum tipo de deboche ou piada. A tal inserção indevida é um trecho colocado no meio do texto sem conexão com o restante.

Outra medida seria uma revisão a mais para as redações nota 1.000 -- elas serão avaliadas também por um banca de especialistas a partir deste ano, prometeu Mercadante.

O jornal carioca "O Globo" mostrou que redações com nota máxima na avaliação do Enem 2012 tinham erros de ortografia, como "rasoavel", "enchergar" e "trousse". As "melhores" redações do Enem também traziam erros de concordância verbal e pontuação.


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Arqueologia ajudará a desvendar origem da biodiversidade amazônica

Jornal do Brasil

A origem e as transformações pelas quais passou a megabiodiversidade da Amazônia ao longo de milhões de anos são questões que intrigam muitos biólogos, em diferentes partes do planeta.

Na tentativa de respondê-las, foram lançadas diversas hipóteses nas últimas décadas. Muitas delas, no entanto, não passaram pelo escrutínio científico em razão da escassez de dados paleológicos (fósseis) e de evidências geomorfológicas. Agora, especialistas das mais diversas áreas – incluindo paleoecologia e arqueologia – investigam o tema.

Um grupo internacional de pesquisadores, liderado por brasileiros e norte-americanos, deu início a um Projeto Temático para reconstruir a origem e a distribuição dos organismos na Amazônia nos últimos 20 milhões de anos.

O projeto é apoiado pela FAPESP e pela National Science Foundation (NSF) no âmbito de um acordo que prevê o desenvolvimento de atividades de cooperação entre os programas "Dimensions of Biodiversity" (NSF) e BIOTA-FAPESP. O estudo também conta com o apoio da agência espacial dos Estados Unidos, a Nasa.

“Há muito interesse por parte de paleoecologistas como eu – que estudam a ecologia no passado a partir de pólens fósseis – em relação a questões como a origem da biodiversidade da Amazônia, o que ocorreu na floresta durante e depois do Último Máximo Glacial [ocorrido há aproximadamente 20 mil anos], as mudanças surgidas no bioma no Holoceno médio [há 6 mil anos] e se a floresta era intocada ou foi um ambiente altamente domesticado nas eras pré-colombianas [antes de 1492]”, disse Frank Mayle, professor da Universidade de Edimburgo, na Escócia, durante o simpósio “The assembly and evolution of the Amazonian biota and its environment”, na sede da FAPESP, em São Paulo.

Realizado no dia 4 de março, o evento serviu como reunião preparatória dos pesquisadores integrantes do projeto e foi aberta ao público. Entre os dias 5 e 8 de março, os especialistas voltaram a se reunir na Fundação, a portas fechadas, para definir os detalhes do andamento da pesquisa.

De acordo com Mayle, uma das hipóteses apresentadas nas últimas décadas para explicar a grande biodiversidade amazônica foi a “Teoria dos Refúgios”. Proposta pelo ornitólogo e biogeógrafo alemão Jürgen Haffer (1932-2010) em um artigo publicado na Science em 1969, a teoria defendia que durante os períodos glaciares algumas áreas da floresta amazônica se tornaram secas. Por causa disso, formaram-se diversos fragmentos florestais – separados uns dos outros por áreas de savana – que teriam servido de refúgio para diversas populações de animais.

Durante o período de isolamento geográfico (vicariância), essas populações de animais “sem floresta” evoluíram longe de seus semelhantes e sofreram especiação geográfica (alopátrica). Quando retornava o período úmido, as regiões abertas voltavam a apresentar vegetação e os fragmentos florestais se conectavam novamente, permitindo que estendessem sua distribuição.

A teoria, contudo, não se sustentou por falta de dados paleológicos, explicou o especialista. “A Teoria dos Refúgios gerou um paradigma para os biólogos, mas faltavam dados paleológicos e precisávamos de mais evidências geomorfológicas para testar suas hipóteses”, disse Mayle.

“A teoria não passou por um escrutínio científico e hoje a maioria de nós não dá muito mais crédito para ela”, afirmou. Segundo o pesquisador, os primeiros dados de paleovegetação da bacia amazônica foram fornecidos por Paul Colinvaux, em um artigo publicado também na Science em 1996 e contradisseram a Teoria dos Refúgios.

Colinvaux achou registros de florestas de umidade contínua onde se achava que fosse área de savana no Último Máximo Glacial, quando a temperatura média do planeta era cinco graus mais fria do que a atual. “Isso levou muitos de nós, paleoecologistas, a inferir que a Teoria dos Refúgios estava incorreta”, afirmou.

Questões em aberto

De acordo com o pesquisador, uma pergunta ainda sem resposta sobre a Amazônia é: que tipo de floresta tropical existia na região no Último Máximo Glacial? Para respondê-la, estão em curso esforços para tentar modelar a extensão de floresta úmida e de floresta seca na época. A qualidade dos dados disponíveis, no entanto, representa um dos principais gargalos para esclarecer as dúvidas.

“As controvérsias sobre a Amazônia no Último Máximo Glacial resultam do conjunto de dados dos quais dispomos”, disse Mayle. “Há poucas informações; o desafio é identificar qual escala espacial e o tipo de cobertura florestal que correspondem ao perfil de paleodados mais antigos. Por isso, somos forçados a fazer extrapolações e trabalhar com modelagem de vegetação.”

Outra pergunta que move os pesquisadores é o que ocorreu na Amazônia no Holoceno médio, quando as condições climáticas eram muito mais secas do que em outros períodos e já havia presença humana na região – e a ocorrência de ações como queimadas.

“Olhar para o que ocorreu na Floresta Amazônica no Holoceno pode nos dar alguma ideia do que pode acontecer na região no futuro”, avaliou Mayle.

Já a linha de interesse de pesquisa mais recente, segundo o pesquisador, é sobre o uso da terra na região no período pré-colombiano – questão que envolve tanto ecologia como arqueologia.

“Há argumentos de que quando os europeus chegaram à região eles se depararam com uma selva virgem. Mas há dados arqueológicos que nos mostram que o uso da terra na Amazônia nessa época não era apenas para agricultura de pequena escala”, disse Mayle.

“Nós vemos traços de uso da terra na Amazônia no período pré-colombiano, na Guiana Francesa e na Bolívia”, exemplificou. Os pesquisadores também querem saber se o aumento da atividade humana, do fogo e do uso de espécies economicamente importantes para os habitantes da região no período pré-colombiano e no Holoceno influenciaram a composição da biodiversidade.

“Não podemos descartar a hipótese de que parte da biodiversidade da Amazônia pode estar relacionada a fatores antropogênicos [desencadeados pela ação humana]”, afirmou.

“Quando falamos da porcentagem da biota que seria antropogênica, é difícil distinguirmos quais espécies são de ocorrência natural e quais foram economicamente importantes e surgiram em função da presença humana. Essa é uma das razões pelas quais pretendemos trabalhar com arqueólogos nesse projeto para tentarmos integrar diferentes linhas de evidências”, explicou.  

Agência Fapesp


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