Professora da
Escola de Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG), Bernadete dos Santos Campello tem doutorado em ciência da
informação e mestrado em biblioteconomia. Autora de diversos livros, ela
participa, atualmente, de dois projetos de pesquisa – Documentando o
conhecimento sobre biblioteca escolar no Brasil: diagnósticos, pesquisas
e legislação e Letramento informacional: desafios para formar pessoas
competentes no uso de informações.
Em entrevista ao Jornal do
Professor, Bernadete Campello diz que o bibliotecário tem diversos
papeis na escola, mas é fundamental que realize um trabalho conjunto com
o professor. Em sua opinião, é importante que a biblioteca se dedique a
um trabalho planejado, constante e persistente a fim de desenvolver e
manter o interesse dos estudantes pela leitura. Além disso, acredita, as
novas tecnologias, especialmente a internet, potencializam o papel das
bibliotecas escolares.
Jornal do Professor – Qual é a
importância que uma biblioteca na escola pode trazer para o aprendizado e
a educação dos estudantes?
Bernadete Campello –
A biblioteca na escola tem sido tradicionalmente associada à leitura.
Eu gosto de pensar a biblioteca como um espaço de aprendizagem onde,
além de ler, os estudantes têm oportunidade de aprender com os livros e
as informações que ali estão reunidas. Além de aprender os conteúdos
curriculares tradicionais, aprendem a desenvolver capacidades para
encontrar, escolher e usar adequadamente as inúmeras informações que
hoje estão disponíveis em diversos suportes.
JP – Qual é o papel que o (a) bibliotecário (a) deve exercer em uma biblioteca escolar?
BC –
O bibliotecário tem diferentes papéis na escola. Na sua dimensão
gerencial e técnica ele administra a biblioteca, atuando nos processos
de seleção e aquisição de materiais, preparando instrumentos de acesso à
informação (catálogos, bases de dados etc.), gerenciando recursos
materiais e humanos, enfim, garantindo o bom funcionamento da
biblioteca. Na dimensão educativa ele trabalha junto com os professores
para fazer da biblioteca um espaço de aprendizagem, ajudando a planejar
atividades de leitura e de pesquisa que requeiram o uso de recursos
informacionais. Participa dessas atividades, colaborando na aprendizagem
de habilidades informacionais que requeiram suas competências
específicas de especialista na busca, na seleção e no uso de
informações.
Percebe-se, então, que o trabalho conjunto do
bibliotecário com o professor é fundamental. O bibliotecário tem uma
formação específica, que o capacita para realizar todos os processos
inerentes a um espaço complexo como a biblioteca, mas para exercer sua
função educativa a parceria com os professores é essencial. Se os
professores não integram a biblioteca às suas práticas pedagógicas e se
não buscam a parceria com o bibliotecário é muito difícil que ela seja
um espaço reconhecido e utilizado plenamente. Considero que a ampliação
da colaboração professor/bibliotecário é atualmente o grande desafio
para implementar metodologias construtivistas nas escolas.
JP
– Que tipo de atividades podem ser realizadas em uma biblioteca a fim
de atrair os estudantes e estimular o interesse pela leitura (da
educação infantil ao ensino médio)?
BC –
Percebo que existe uma preocupação muito grande em dinamizar a
biblioteca, realizando atividades para atrair os estudantes para a
biblioteca e a leitura. O problema é que muitas vezes são atividades
esporádicas, pontuais. Em minha opinião, o importante é que a biblioteca
se dedique a um trabalho planejado, constante e persistente a fim de
desenvolver e manter o interesse pela leitura. Isso funciona se a escola
investe coletiva e persistentemente em projetos de leitura. Essa é a
situação ideal. Sem esse envolvimento a biblioteca se fragiliza, se
transforma em depósito de livros.
JP – Que tipo de obra não pode faltar no acervo de uma biblioteca escolar?
BC –
O acervo da biblioteca deve contemplar a diversidade textual. O acesso à
variedade de textos é um pressuposto da educação atualmente, e o acervo
da biblioteca reflete essa ideia. Então, além dos livros literários,
penso que a biblioteca precisa fornecer boas possibilidades de acesso à
internet, facilitando o acesso à riqueza de informações que a rede
oferece.
JP – Com o surgimento das novas tecnologias, como fica o papel das bibliotecas?
BC –
Entendo que as novas tecnologias, especialmente a internet,
potencializam o papel das bibliotecas escolares. Por um lado, o papel
continua o mesmo: fornecer acesso aos livros e às informações, ajudando o
aluno a usar esses materiais para aprender. Por outro, a internet
possibilita o enriquecimento do acervo, ao mesmo tempo em que exige
capacidades para lidar com a abundância de informações que oferece.
Então o bibliotecário tem um papel importante no desenvolvimento da
competência informacional, que permite à pessoa lidar adequadamente com
esse acúmulo de informações.
JP – A senhora coordena o
Grupo de Estudos em Biblioteca Escolar (Gebe), localizado na Escola de
Ciência da Informação da UFMG. Quando o Gebe foi criado, qual seu
objetivo e quais os principais resultados obtidos?
BC –
O Gebe começou suas atividades em 1998, na Escola de Ciência da
Informação da UFMG e desde então vem se dedicando às atividades básicas
de uma instituição acadêmica: pesquisa, ensino e extensão. Como
professores em um curso de biblioteconomia, o fundamento de nossas ações
é a biblioteca escolar como espaço de aprendizagem, isto é, entendemos
que a biblioteca é um lugar para aprender com os livros e com as
informações. Entendemos também que essa aprendizagem só ocorrerá se
houver processos de mediação e que o bibliotecário tem um papel
fundamental nessa mediação.
Os resultados se materializam no
reconhecimento que temos obtido do trabalho do Gebe. Penso que a
realização de pesquisas, a participação em fóruns internacionais, a
preocupação em tornar nossas ideias conhecidas (ao publicar livros
acessíveis para a comunidade educacional) e, principalmente, o esforço
em ampliar a interlocução com professores, tem levado a esse
reconhecimento.
JP – Um dos trabalhos realizados pelo Gebe
foi a elaboração de parâmetros para as bibliotecas escolares. Qual o
objetivo desse trabalho? Quais os principais pontos abordados nesses
parâmetros?
BC – Os parâmetros foram
resultado de uma parceria do Gebe com o Conselho Federal de
Biblioteconomia e constituem um referencial para apoiar a criação e/ou
reestruturação de bibliotecas escolares. Na verdade, até então, não
tínhamos no Brasil esse tipo de diretriz. Não havia uma definição clara
do que seja uma biblioteca. Os parâmetros fazem essa definição, propondo
indicadores mínimos para espaço físico, coleção, acesso à internet,
organização da coleção, serviços e atividades e pessoal. É um primeiro
passo para que o Brasil tenha bibliotecas de qualidade, que atendam às
exigências da Lei 12.244, que dispõe sobre a universalização de
bibliotecas escolares.
JP – Sabe-se que muitas escolas não
dispõem de profissionais especializados atuando nas bibliotecas. Como
preparar os professores para exercer essa atividade? As instituições de
ensino superior costumam promover cursos de especialização nesse
sentido?
BC – Embora existam no Brasil,
cerca de trinta cursos de biblioteconomia, que formam bibliotecários em
nível de graduação, a grande maioria das bibliotecas escolares não conta
com esse profissional. A atuação de professores nas bibliotecas, embora
desejável, não contempla toda a gama de atividades necessárias para a
constituição completa desse espaço. Eles, os professores, não têm
formação para substituir o bibliotecário. Na minha opinião, o professor
tem uma atuação importante na biblioteca escolar estimulando e apoiando
os estudantes no uso da coleção. Os bibliotecários reconhecem a
importância dessa atuação, tanto é que em boas bibliotecas dirigidas por
bibliotecários, é comum que haja um professor na equipe.
Quanto
aos cursos de especialização, algumas instituições de ensino superior
têm oferecido cursos nesse nível, aberto a professores. Tenho
conhecimento de cursos dessa modalidade oferecidos na Universidade
Estadual de Londrina e nas universidades federais de Santa Catarina,
Pará e Rio Grande do Sul.
Fonte: Portal do Professor/ MEC
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