segunda-feira, 23 de abril de 2012

A biblioteca como espaço de aprendizagem

Gosto de pensar a biblioteca como um espaço de aprendizagem, diz Bernadete Campello
Gosto de pensar a biblioteca como um espaço de aprendizagem, diz Bernadete Campello

Professora da Escola de Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Bernadete dos Santos Campello tem doutorado em ciência da informação e mestrado em biblioteconomia. Autora de diversos livros, ela participa, atualmente, de dois projetos de pesquisa – Documentando o conhecimento sobre biblioteca escolar no Brasil: diagnósticos, pesquisas e legislação e Letramento informacional: desafios para formar pessoas competentes no uso de informações.

Em entrevista ao Jornal do Professor, Bernadete Campello diz que o bibliotecário tem diversos papeis na escola, mas é fundamental que realize um trabalho conjunto com o professor. Em sua opinião, é importante que a biblioteca se dedique a um trabalho planejado, constante e persistente a fim de desenvolver e manter o interesse dos estudantes pela leitura. Além disso, acredita, as novas tecnologias, especialmente a internet, potencializam o papel das bibliotecas escolares.

Jornal do Professor – Qual é a importância que uma biblioteca na escola pode trazer para o aprendizado e a educação dos estudantes?

Bernadete Campello – A biblioteca na escola tem sido tradicionalmente associada à leitura. Eu gosto de pensar a biblioteca como um espaço de aprendizagem onde, além de ler, os estudantes têm oportunidade de aprender com os livros e as informações que ali estão reunidas. Além de aprender os conteúdos curriculares tradicionais, aprendem a desenvolver capacidades para encontrar, escolher e usar adequadamente as inúmeras informações que hoje estão disponíveis em diversos suportes.

JP – Qual é o papel que o (a) bibliotecário (a) deve exercer em uma biblioteca escolar?

BC – O bibliotecário tem diferentes papéis na escola. Na sua dimensão gerencial e técnica ele administra a biblioteca, atuando nos processos de seleção e aquisição de materiais, preparando instrumentos de acesso à informação (catálogos, bases de dados etc.), gerenciando recursos materiais e humanos, enfim, garantindo o bom funcionamento da biblioteca. Na dimensão educativa ele trabalha junto com os professores para fazer da biblioteca um espaço de aprendizagem, ajudando a planejar atividades de leitura e de pesquisa que requeiram o uso de recursos informacionais. Participa dessas atividades, colaborando na aprendizagem de habilidades informacionais que requeiram suas competências específicas de especialista na busca, na seleção e no uso de informações. 

Percebe-se, então, que o trabalho conjunto do bibliotecário com o professor é fundamental. O bibliotecário tem uma formação específica, que o capacita para realizar todos os processos inerentes a um espaço complexo como a biblioteca, mas para exercer sua função educativa a parceria com os professores é essencial. Se os professores não integram a biblioteca às suas práticas pedagógicas e se não buscam a parceria com o bibliotecário é muito difícil que ela seja um espaço reconhecido e utilizado plenamente. Considero que a ampliação da colaboração professor/bibliotecário é atualmente o grande desafio para implementar metodologias construtivistas nas escolas.

JP – Que tipo de atividades podem ser realizadas em uma biblioteca a fim de atrair os estudantes e estimular o interesse pela leitura (da educação infantil ao ensino médio)?

BC – Percebo que existe uma preocupação muito grande em dinamizar a biblioteca, realizando atividades para atrair os estudantes para a biblioteca e a leitura. O problema é que muitas vezes são atividades esporádicas, pontuais. Em minha opinião, o importante é que a biblioteca se dedique a um trabalho planejado, constante e persistente a fim de desenvolver e manter o interesse pela leitura. Isso funciona se a escola investe coletiva e persistentemente em projetos de leitura. Essa é a situação ideal. Sem esse envolvimento a biblioteca se fragiliza, se transforma em depósito de livros. 

JP – Que tipo de obra não pode faltar no acervo de uma biblioteca escolar?

BC – O acervo da biblioteca deve contemplar a diversidade textual. O acesso à variedade de textos é um pressuposto da educação atualmente, e o acervo da biblioteca reflete essa ideia. Então, além dos livros literários, penso que a biblioteca precisa fornecer boas possibilidades de acesso à internet, facilitando o acesso à riqueza de informações que a rede oferece.

JP – Com o surgimento das novas tecnologias, como fica o papel das bibliotecas?

BC – Entendo que as novas tecnologias, especialmente a internet, potencializam o papel das bibliotecas escolares. Por um lado, o papel continua o mesmo: fornecer acesso aos livros e às informações, ajudando o aluno a usar esses materiais para aprender. Por outro, a internet possibilita o enriquecimento do acervo, ao mesmo tempo em que exige capacidades para lidar com a abundância de informações que oferece. Então o bibliotecário tem um papel importante no desenvolvimento da competência informacional, que permite à pessoa lidar adequadamente com esse acúmulo de informações. 

JP – A senhora coordena o Grupo de Estudos em Biblioteca Escolar (Gebe), localizado na Escola de Ciência da Informação da UFMG. Quando o Gebe foi criado, qual seu objetivo e quais os principais resultados obtidos?

BC – O Gebe começou suas atividades em 1998, na Escola de Ciência da Informação da UFMG e desde então vem se dedicando às atividades básicas de uma instituição acadêmica: pesquisa, ensino e extensão. Como professores em um curso de biblioteconomia, o fundamento de nossas ações é a biblioteca escolar como espaço de aprendizagem, isto é, entendemos que a biblioteca é um lugar para aprender com os livros e com as informações. Entendemos também que essa aprendizagem só ocorrerá se houver processos de mediação e que o bibliotecário tem um papel fundamental nessa mediação.

Os resultados se materializam no reconhecimento que temos obtido do trabalho do Gebe. Penso que a realização de pesquisas, a participação em fóruns internacionais, a preocupação em tornar nossas ideias conhecidas (ao publicar livros acessíveis para a comunidade educacional) e, principalmente, o esforço em ampliar a interlocução com professores, tem levado a esse reconhecimento.

JP – Um dos trabalhos realizados pelo Gebe foi a elaboração de parâmetros para as bibliotecas escolares. Qual o objetivo desse trabalho? Quais os principais pontos abordados nesses parâmetros?
BC – Os parâmetros foram resultado de uma parceria do Gebe com o Conselho Federal de Biblioteconomia e constituem um referencial para apoiar a criação e/ou reestruturação de bibliotecas escolares. Na verdade, até então, não tínhamos no Brasil esse tipo de diretriz. Não havia uma definição clara do que seja uma biblioteca. Os parâmetros fazem essa definição, propondo indicadores mínimos para espaço físico, coleção, acesso à internet, organização da coleção, serviços e atividades e pessoal. É um primeiro passo para que o Brasil tenha bibliotecas de qualidade, que atendam às exigências da Lei 12.244, que dispõe sobre a universalização de bibliotecas escolares.

JP – Sabe-se que muitas escolas não dispõem de profissionais especializados atuando nas bibliotecas. Como preparar os professores para exercer essa atividade? As instituições de ensino superior costumam promover cursos de especialização nesse sentido?

BC – Embora existam no Brasil, cerca de trinta cursos de biblioteconomia, que formam bibliotecários em nível de graduação, a grande maioria das bibliotecas escolares não conta com esse profissional. A atuação de professores nas bibliotecas, embora desejável, não contempla toda a gama de atividades necessárias para a constituição completa desse espaço. Eles, os professores, não têm formação para substituir o bibliotecário. Na minha opinião, o professor tem uma atuação importante na biblioteca escolar estimulando e apoiando os estudantes no uso da coleção. Os bibliotecários reconhecem a importância dessa atuação, tanto é que em boas bibliotecas dirigidas por bibliotecários, é comum que haja um professor na equipe.

Quanto aos cursos de especialização, algumas instituições de ensino superior têm oferecido cursos nesse nível, aberto a professores. Tenho conhecimento de cursos dessa modalidade oferecidos na Universidade Estadual de Londrina e nas universidades federais de Santa Catarina, Pará e Rio Grande do Sul.

Fonte: Portal do Professor/ MEC

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