sexta-feira, 20 de abril de 2012

Adoção do Enem divide professores

A adoção das notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para a seleção e ingresso de estudantes na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), com o preenchimento de 50% das vagas em 2013 e 100% das vagas a partir de 2014, deverá provocar mudanças no modelo de instrução das redes privadas e públicas de ensino, a começar dos chamados cursinhos pré-vestibulares.

O diretor do Overdose Colégio e Curso, Carlos André Cavalcante, disse que existe uma discussão no Brasil "se esse modelo de cursinhos vai continuar ou não". Ele exemplificou que no Ceará o Enen foi considerado ruim devido à perda de alunos, o que gerou demissões nos cursinhos. Em Minas Gerais, o caminho foi inverso: houve uma melhora depois da adoção do Enem como única alternativa de acesso à Universidade.

A expectativa é que os cursos que oferecem até seis horas de aulas a um pré-vestibulando, com o  fim do vestibular convencional na  UFRN, poderá ser reduzido para quatro horas diárias, devido à provável utilização de material pedagógico menos específico e mais genérico e básico. O que ocorre até este momento é que os cursos se especializaram e direcionaram suas aulas a determinadas áreas, as mais concorridas.

Na opinião de Cavalcante, o Enem também vai contribuir "para reduzir o nível de cobrança dos alunos", em virtude da padronização das provas. "Parece estranho, o Enem é uma prova muito mais fácil e mais difícil de aprovar, porque é uma prova nacional e a disputa é com todo mundo".

O coordenador do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Rio Grande do Norte (Sinte-RN), José Teixeira da Silva, afirmou que a mudança do processo seletivo da UFRN é benéfica, principalmente para os estudantes das escolas públicas, porque o vestibular tradicional, "que na verdade só vinha segregar grande parte dos estudantes".

José Teixeira cita ainda que os alunos de escolas públicas podem ser ainda beneficiados caso haja a  aprovação,  no Congresso Nacional, da garantia da cota de 50% das vagas para alunos da rede pública de ensino nas universidades públicas do país: "Estamos no caminho da evolução".

O presidente do Sindicato das Escolas Particulares do RN, Alexandre Marinho, declarou que o processo seletivo de alunos universitários pelo Enem mudará o quadro dos cursinhos, mas quanto às escolas. "Não tem essas mudanças todas em termos de ensino e conteúdo", diz, mas reconhece que é preciso se voltar para um modelo de ensino que priorize a lógica e a interpretação e assuntos da atualidade. "Essa é a diferença grande para a prova do vestibular", completa.

Quanto à questão do conteúdo, admite Marinho, as escolas vão continuar ensinando dentro da programação pedagógica do Ministério da Educação e Cultura (MEC), mas o que muda completamente é a filosofia das provas. "As provas serão mais abrangentes, complexas e interdisciplinares, uma questão só, envolve assuntos de três ou quatro disciplinas". 

Chances para escolas públicas

O coordenador geral do Colégio Salesiano, Mário Sérgio de Oliveira, defende a adoção do Enem como processo seletivo para ingresso na UFRN, à medida em que a avaliação contempla os estudantes de todas as classe sociais.

Para Oliveira, o Enem também deverá trazer alterações no processo político e pedagógico das escolas, no instante em que deixam de ser aplicadas provas específicas por áreas de formação universitária.

As provas do Enem são mais generalistas quando juntam questões de História, Geografia e outras disciplinas numa área só, a das Ciências Humanas, assim como Matemática, Física, Química numa prova de Ciências Naturais. Em cada uma das provas os assuntos são diluídos em apenas 45 questões, diferentemente de Matemática e Português, que são aplicadas com 45 e 40 questões, além da Redação.

Mesmo com o fim do vestibular tradicional, Oliveira acha que os alunos da rede particular de ensino continuarão em vantagem ao se submeterem à avaliação do Enem, a não ser que o governo federal execute um pacote educacional "bem fundamentado na valorização do ensino público", para que os estudantes das escolas públicas "possam concorrer em condição de igualdade" com os egressos da rede privada. Em virtude das provas do Enem serem realizadas entre o fim de outubro e o começo de novembro,  as escolas fatalmente terão de adequar o calendário escolar, com o  início do ano letivo em janeiro.

O professsor do Salesiano, Frederico Lima também analisou que a partir da adoção do Enem, em todo o país, as escolas vão sofrer mudanças de médio prazo, relacionadas mais a um ensino polivalente, sendo uma tendência a  acabar com o professor especialista em Matemática, Português, História e em qualquer outra disciplina.

Segundo Lima, com o Enem e futuramente o próprio modelo de ensino, vai privilegiar "a habilidade e o conhecimento" e vai se observar  "se o aluno está capacitado para colocar em  prática o conhecimento adquirido".

Entre os estudantes, a impressão que se tem é que o Enem vai tornar mais difícil o acesso à universidade pública. "Ficará mais difícil, porque a concorrência vai ser com  o país todo", disse a estudante de ensino médio do Salesiano, Natália Nunes.

Para a estudante do Atheneu, Jéssica Nascimento, as chances se reduzem porque o estudante "se não passasse"  o vestibular convencional, ainda tinha o Enem para concorrer a uma vaga na UFRN.

Universidade não tem ainda quadro de vagas

A UFRN ainda não dispõe de informações sobre o número de vagas que serão disponibilizadas, este ano, para o vestibular convencional e Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

"Nós vamos ter essa informação só a partir do dia 27 deste mês", disse o pró-reitor de Graduação daquela instituição de ensino superior, professor Alexandre Lara Menezes. Até aquela data, segundo o pró-reitor, os chefes de Departamentos e coordenadores de cursos estarão definindo o número de vagas e de cursos que terão acesso pelo Enem.

Alexandre Menezes também faz algumas ponderações sobre a aplicação do Enem, afirmando que a sua adoção torna mais democrático o acesso à UFRN, pois enquanto as provas do vestibular tradicional são aplicadas em apenas cinco cidades, o Enem é mais abrangente.

Outro ponto importante, explicou Menezes, é que a inscrição é gratuita, enquanto a isenção da taxa de vestibular para os estudantes carentes não alcança todo mundo. Ataxa de inscrição é de R$ 110,00 para cobrir os custos do vestibular.

Menezes também desmistifica os comentários de que pelo fato do Enem ser aplicado simultaneamente em todo o país, as vagas da UFRN serão preenchidas por alunos oriundos de centros mais adiantados. "Na Universidade Federal do Ceará (UFCE) onde as vagas já são preenchidas 100% pelo SiSU só 4% dos alunos vieram de outros estados", exemplificou.

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