Brasília (Ag. Notisa) - As noções de tempo e espaço estão nas atividades mais cotidianas e podem ser exploradas com as crianças a fim de promover o seu desenvolvimento cognitivo. Entretanto, pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande explicam que, em geral, os professores da educação infantil são receosos em trabalhar essas noções. Acreditam que são conceitos complicados, pois envolvem conteúdos da física e da matemática. No estudo "O conhecimento físico-matemático na educação infantil a partir das brincadeiras e jogos populares", apresentado na 13ª Conferência Interamericana de Educação, realizada ano passado em Recife, os pesquisadores mostram que não é bem assim.
Jogo da Amarelinha desenvolve senso de força e espaço nas crianças
"Na verdade, usamos essas noções a todo o momento no dia-a-dia. Quando vamos atravessar a rua, precisamos pensar no espaço que devemos percorrer até o outro lado. Necessitamos calcular, ainda que inconscientemente, o tempo que vamos levar e relativizá-lo em função do fluxo de veículos e pedestres", explicam os autores no artigo.
O estudo mostra algumas ações educativas que podem ser desenvolvidas no âmbito da educação infantil para auxiliar a constituição destas noções. Eles falam, por exemplo, de um comportamento comum dos bebês que é pegar um brinquedo e jogar repetidamente contra um anteparo ou ao chão. "Alguns professores, equivocadamente, retiram o objeto do alcance do bebê e o impedem de experimentar essa atividade. Contudo, por que seria importante um bebê jogar 20 vezes uma bola no chão? Durante essa atividade, cada uma das vezes que ele joga a bola no chão, está experimentando e aprendendo características daquele objeto, testando novas formas de jogá-lo, observando diferentes reações. Ele pode estar assimilando o objeto, a ação que realiza sobre o mesmo e, paralelamente, está acomodando-se às novidades que surgem", explicam os autores João Alberto da Silva e Kelber Abrão no estudo.
De acordo com eles, a importância dessas atividades se expande para outras condutas típicas das crianças pequenas, como bater um objeto contra outro para produzir um som, passar por baixo de móveis, tentar abrir portas e brincar com chaves. Todas essas condutas estão regidas por essa estrutura sensório-motora que permite uma inteligência prática capaz de fornecer dados para uma adaptação em relação às necessidades que surgem a cada instante.
O estudo lista uma série de brincadeiras que estimulam a percepção espaço-temporal. Ao pular corda, por exemplo, é preciso organizar o movimento do corpo de acordo com os deslocamentos do objeto. Cada movimento das pernas e de impulsão do braço está ligado ao tempo de movimento da corda. Além disso, há juntamente uma coordenação espacial. Torna-se importante considerar o tamanho do seu próprio corpo em relação ao arco que se forma em função do balanço da corda. Caso o sujeito não observe essa relação, ele tende a esbarrar no objeto e a não conseguir participar da brincadeira.
Já, ao jogar bolinha de gude, as crianças desenvolvem além da noção estrutural de espaço, a motricidade fina, como o controle e a destreza em executar o movimento de lançar a bola sobre as demais. De acordo com os autores, trabalhar a motricidade fina é essencial para o desenvolvimento da criança desde a tenra idade, pois os movimentos auxiliam no desenvolvimento da parte grafo-motora, posteriormente, auxiliando também na aprendizagem de matemática, pois jogar bola de gude proporciona trabalhar a habilidade de seriação, classificação e correspondência.
"No caso da popular Dança das Cadeiras podemos ver que existe uma coordenação espaço-temporal atravessada pelo aspecto lúdico da brincadeira e pela música. A amarelinha é uma brincadeira que estimula a comparação, embora as crianças não joguem simultaneamente, as comparações são feitas em momentos diferentes. A brincadeira necessita que a criança coordene a força e a velocidade para arremessar a pedra dentro do limite das casas, assim como a força de propulsão para pular as mesmas. No jogo do Passa-Bola o espaço e o tempo estão organizados com elementos de coordenação motora, de gerenciamento da ansiedade para aguardar sua vez e do trabalho em equipe", explicam na pesquisa.
Fonte: Tribuna do Norte
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