sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Por uma nova escola

Em visita ao Brasil, filósofo e educador colombiano Bernardo Toro critica modelo de educação adotado na América Latina. Para ele, não se pode falar em ensino público enquanto houver dualidade no sistema escolar.
Por: Célio Yano - Publicado em 14/08/2013 | Atualizado em 14/08/2013
O modelo de escola adotado na América Latina não funciona, e a chave para a sua melhoria está em repensar o próprio conceito de educação. A opinião é do filósofo e educador colombiano Bernardo Toro, professor aposentado da Universidade Javeriana, de Bogotá, e membro dos conselhos da Confederação Colombiana de ONGs e do Centro Colombiano de Responsabilidade Empresarial.
Toro esteve no Brasil na semana passada para participar do Salamundo 2013, evento internacional de educação realizado em Curitiba. “Muitas pessoas definem a escola como um lugar onde se dá aulas, e o educador como o profissional destinado a dar aulas”, disse. “Dar aulas é apenas uma estratégia; o objetivo da escola e do professor tem que ser que os alunos aprendam.”
“A educação existe por um único motivo: porque saber não é natural do ser humano”, afirmou. “Sendo a educação um instrumento artificial, podemos mudá-la em nosso proveito.”
Em 1997, o pesquisador definiu sete capacidades que considerava necessárias desenvolver em crianças e jovens para que tivessem participação produtiva no século 21: leitura e escrita; cálculo e solução de problemas; análise, síntese e interpretação de dados, fatos e situações; compreensão e atuação em seu entorno social; recepção crítica dos meios de comunicação; localização, acesso e melhor uso da informação acumulada; e planejamento, trabalho e decisão em grupo.

Mais de uma década e meia depois, Toro insiste que a lista, que chamou de Códigos da Modernidade, ainda é válida. “Acrescentei apenas um código a mais: é preciso aprender a ajudar e a pedir ajuda”, disse, em entrevista à CH On-line. Segundo o colombiano, nenhum sistema de ensino público segue integralmente o modelo que ele propõe.
Educação pública?
Para o filósofo, a rigor, não se pode falar em educação pública no Brasil ou em qualquer outro país latino-americano. “Imagine que uma parte da população de Curitiba receba água potável e outra parcela tenha acesso a uma água de menor qualidade”, comparou. “Nesse caso, a água seria um bem público?”
“O que há é uma educação estatal e uma privada, mas não uma educação pública”, disse, em entrevista após a palestra. O filósofo é defensor da ideia de que se filhos de ocupantes de cargos de poder, como prefeitos, governadores e parlamentares, estudassem em escolas públicas, seus pais trabalhariam de maneira mais contundente em prol da melhoria do sistema educacional.
“Vocês e eu já tivemos nosso tempo, de modo que é uma infração ética roubarmos o tempo dos estudantes”
Em sua exposição, Toro defendeu ainda o ensino em tempo integral, alegando que em países desenvolvidos os alunos passam muito mais horas expostos ao aprendizado. “Mas o tempo de aula não é dos professores, deve ser integralmente dedicado ao aluno”, ressaltou à plateia formada em grande parte por educadores. “Vocês e eu já tivemos nosso tempo, de modo que é uma infração ética roubarmos o tempo dos estudantes.”
Para ele, o bom professor é aquele que tem expectativas positivas de seus alunos e que não os culpa pelo fracasso. “Uma criança que é reprovada não pode assumir uma responsabilidade que não é dela”, afirmou. “Qualquer pessoa, em qualquer idade – inclusive na minha –, pode aprender qualquer coisa que quiser se tiver motivação e usar o método adequado.”
“Dar aulas é muito fácil – difícil é fazer as pessoas aprenderem”, disse o educador. Citando o poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), deu a entender que o Brasil deve assumir a posição de líder para promover uma mudança em escala internacional: “O presente é tão grande, não nos afastemos / Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas”, declamou. Na opinião de Toro, se o Brasil mudar, toda a América Latina muda junto.
Célio Yano
Ciência Hoje On-line/ PR

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